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terça-feira, 19 de junho de 2012

O problema do Brasil é a educação. Mas e aí?

Por Alexandre Le Voci Sayad *


Há uns doze anos, me surpreendi quando escutei de um político demagogo na televisão que a educação ruim, ela mesma, era o principal problema do Brasil. Não demorou muito para perceber que aquele sujeito tinha substituído em seu discurso a palavra “cadeia” por “escola”, por conta de uma estratégia de marketing político. Mas o fato em si não conseguiu ocultar uma boa nova: a percepção popular começava a mudar; educação não era mais papo de intelectual, ou seja, de poucos – tornara-se papo de “boteco”, popular. Começava a abrigar o inconsciente coletivo.
Mas começava aí uma outra questão que perdura até hoje: a esterilidade do raciocínio, ou seja, a falta de profundidade que a reflexão sobre a importância da educação ganhou na sociedade. De modo geral, a população sabe que ela deve ser prioridade para que o Brasil cresça forte; mas e aí? Na prática, o que significa isso, se contamos hoje com praticamente a universalização do ensino básico e uma sociedade que vive quase em pleno emprego?
Acompanhar a pífia cobertura midiática da votação do Plano Nacional de Educação (PNE) - e participar de seus debates – é necessidade de primeira ordem. O plano define objetivos claros para os próximos dez anos. E as discussões fervem no Congresso Nacional neste momento.
A grande questão da política pública de educação hoje é como reter os estudantes numa escola de boa qualidade que lhe faça sentido, que lhe auxilie na vida. No fundo, lutamos contra a evasão escolar e o desvio de recursos. As políticas públicas federais devem focar nisso.
Na prática, precisamos atentar a três pontos na gestão educativa: 
1. Mais recurso, 
2. Qualidade na gestão desse recurso e
3. Inovação nas escolas.
Só assim, formamos e pagamos melhor os professores e garantimos às escolas públicas autonomia e capacidade de inovação e, por consequência, retenção de alunos.
Comprometemos quase 6% do nosso PIB para pagar a dívida pública e questionamos se 7% do PIB para educação seriam suficientes. Angelo Vanhoni, que é reator do PNE na Câmara, diz que 7,5% está mais que bom. Estudantes e professores pressionam por 10%; adequado inclusive para acelerar nossos anos de atraso (média compatível a países europeus e Estados Unidos, segundo a Unesco).
Mas só dinheiro não resolve a questão – é preciso boa gestão. O Brasil passou anos acentuando suas desigualdades sociais quando investia muito mais em educação superior, do que na educação básica. Essa defasagem diminuiu, mas não chegamos ainda a um número razoável de investimento. Os Estados Unidos investem a media de US$ 8,8 mil por aluno, nós não chegamos a US$ 1,5 mil, por exemplo. 

Corrupção também estraga a educação. A Fundação Getúlio Vargas (FGV) realizou inúmeros estudos relacionando baixo desempenho nos índices educacionais municipais, com corrupção na gestão das cidades. O mesmo índices dispararam quando o investimento em educação aumenta nos municípios.
Sim, o grande problema do Brasil é a educação – e boa parte da solução também. Para que essa máxima não se transforme me palavras etéreas, é preciso acompanhar a pressionar por um PNE digno dos nossos dez próximos anos. E esse é somente o começo do novelo embolado: a educação infantil, que tem sido prioridade em diversos países do mundo, parece ainda passar longe da agenda política nacional. Assunto para outro artigo.
* Alexandre Le Voci Sayad é jornalista e desde 1999 se dedica a projetos interdisciplinares na área de educação, cidadania e inovação, entre eles MyFunCity, Instituto Claro, Cidade Escola Aprendiz, Idade Mídia e OpenCity Labs e REDE CEP (Rede de Comunicação Educação e Participação). É autor de “Idade Mídia – A Comunicação Reinventada na Escola” – Editora Aleph/2012.

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