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terça-feira, 13 de março de 2012

Escola deveria ser garagem


Por Alexandre Le Voci Sayad (*) 
Mudar um sistema de ensino é muito complexo; realizar experiências pontuais – construir escolas ideais – que sirvam de exemplo e instiguem mudanças maiores, nem tanto
Há alguns dias fui provocado por dois jovens e inteligentes documentaristas, Antonio Lovato e Raul Perez, que me pediram um depoimento sobre “a escola que considero ideal”. Nunca havia pensado de forma totalmente onírica e livre sobre esse tema, então coloquei minha mente para rodar antes da câmera ser ligada.
Viajei muito no Brasil e no mundo para conhecer escolas; ouvi outras tantas de amigos. Nesse meu fluxo de pensamento, lembrei-me dos laboratórios do Massachusetts Institute of Technology (MIT), do Schumacher College, da Escola da Ponte, da Cidade Escola Aprendiz, de uma escola dinamarquesa relatada por Rubem Alves, em que estudantes aprendiam a construir uma casa, e também da Oregon Episcopal School (OPS), que me encantou. Todos os exemplos têm elementos em comum: ignoram o currículo, pois trabalham por projetos – teoria que data dos anos 40. E todas são idealizadas e coordenadas por educadores fora dessa cátedra.
Antes responder cara a cara aos dois cineastas, pensei também, muito centralmente, nas minhas experiências com jovens produzindo comunicação – como o Idade Mídia, do Colégio Bandeirantes. Vivências em que os estudantes se apropriam do espaço escolar e aprendem muito mais quando sua expressão surge no universo do aprendizado, e quando são estimulados a acreditar em sua capacidade de realização de um projeto – no caso uma revista ou um documentário.
Mas, quando comecei a dar minha resposta, quis dar um passo atrás do meu sonho de escola educomunicativa para me desamarrar de conceitos, e procurei achar pontos em comum a todas elas. E percebi: são experiências de e para “garagens”.
Me lembrei daquelas garagens de casas antigas, onde se acumulam bugigangas, mas há sempre uma mesa para se sentar e organizar as ideias. Portanto, cheguei à conclusão de que minha escola ideal assemelha-se a uma garagem. Dessas mesmo onde as crianças têm a tentação de montar robôs com peças velhas.
Lá, o foco está na criação e inovação do estudante. O professor é um tutor que circula entre os objetos, orienta as criações e aprende muito também. Um tablet conectado à internet seria o material básico. Os produtos lá desenvolvidos trariam um pouco de cada disciplina.
Ao final da entrevista, tive a estranha sensação de ter vivido essa atmosfera de garagem na maioria das vezes em ambientes educomunicativos. Fui induzido a pensar na comunicação novamente; ela está no DNA do estudante antes mesmo da escolarização chegar. Este é seu ponto mais forte: joga a favor do estudante.
A garagem tem um apelo tão intenso para a educação que, se nenhum projeto for capaz de brotar daquele ambiente, ainda é possível vender limonada (como fazem os norte-americanos) ou montar uma banda de rock (como faz qualquer jovem). O que, em última instância, são também projetos.
(*) Alexandre Le Voci Sayad é jornalista e desde 1999 se dedica a projetos interdisciplinares na área de educação, cidadania e inovação, entre eles MyFunCity, Instituto Claro, Cidade Escola Aprendiz, Idade Mídia e OpenCity Labs e REDE CEP (Rede de Comunicação Educação e Participação). É autor de “Idade Mídia – A Comunicação Reinventada na Escola” – Editora Aleph/2012.
Artigo publicado nos Blog Educação & Mídia do jornal Gazeta do Povo e no Portal Aprendiz

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